sábado, 31 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
então, de repente, você teria se voltado para ela,
perguntando das possibilidades de chuva e inundação.
ela seguiria pisando os paralelepípedos emersos,
sem perder o equilíbrio. e você quereria ouvir
o que o futuro lhe reservava naquela noite.
depois de tomarem banho e conseguirem uma cama seca,
sairiam- regressando pelo mesmo caminho,
até avistarem o lugar morno e iluminado. sentariam
junto à porta, pediriam vinho, peixe e pão, como num ritual.
quando a luz apagasse, vocês já teriam comido e relembrado
coisas antigas, viagens recentes e desejos. a chuva cairia forte
outra vez, refrescando o sufoco da noite.
cada traço do rosto dela estaria iluminado sob a luz
dos relâmpagos. a cada clarão, um outro jeito a confundir
seus gestos: de dor, de tristeza. ou uma alegria distante.
ela, por sua vez, veria apenas um contorno de corpo
recortado contra o fundo da porta. lá fora ela veria
o céu iluminado pelos raios, a torre da igreja,
as telhas brilhando.
a cada pausa, ela teria outras formas de pedir descanso
da loucura que estava sendo viver.
você, como sempre, perderia a paciência: ao invés de
reparar na magia, sentiria um ódio quase
incontrolável da situação.
e aí, entre vocês, estaria instalado o abismo.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Delírios
Que de certa maneira não possuo mais.
Explosão de ansiedade, misto de insegurança...
Em qual lugar do mundo a minha sanidade se perdeu?
Das lembranças de quem hoje se faz ausente,
Tirei delas a dor e a canção
Arrastando-as por um só cordão.
Da morte, da vida e da solidão
Me lancei a própria sorte
Quando me sangraram o coração...
Ah se meus delírios já não me enganassem mais,
com a vã esperança do reencontro.
Muito peço para que me deixem em paz.
E o meu canto triste
se repete ao anoitecer
quando as estrelas saem para nos ver...
Ele reflete angústias sim, porém,
Mergulha-se profundamente em saudades.
Esse rosto na sombra, esse olhar na memória,
o tempo do silêncio, oa braços da esperança,
uma rosa indefesa - e esse vento inimigo.
Ficou somente a luz do constante deserto,
e o sobrenatural reino obscuro do vento,
com seu povo indistinto a carpir noutro idioma.
Ideias de saudade em tal paisagem morrem.
Que arroio pode haver, de contínuos espelhos,
a repetir o que é deixado?
Por devota, solidária ternura e aceitação da angústia?
- Ah, deixarei meu nome entre as antigas mortes.
Só nessas mortes pode estar meu nome escrito.
Cecília Meireles
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Magnificat - Álvaro de Campos
MAGNIFICAT
E eu, a minha alma, terei meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida,
Quem tens lá no fundo?!
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma: será dia!
Álvaro de Campos
Heterônimo Fernando Pessoa.quarta-feira, 7 de julho de 2010
Alice em: dor.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Alice querendo amar...
E estou lá, mais uma vez andando sem rumo.
Parecendo Hippie sem parada, sem estada, sem morada.
Parecendo coração sem paixão, tempestade sem trovão,
vários minutos de inconsciência deitada neste chão.
E o único caminho que tenho me perdido sempre, é o caminho dos teus olhos,
com brilho, com amor, me fazendo perder as chances de ser encontrada.
E a única coisa que tenho desejado, andando nesta rua sem luz, alagada pela chuva, sem nenhum carro a passar, é, quem sabe ali na esquina, te encontrar, eu só queria ter a chance de te falar, que o meu sentimento hoje é maior até que o mar e quando eu acho que nele eu vou me afundar vem a realidade e me tira dos inevitáveis transes temporários que sempre me encontro.
Como este, que me deu a sensação de outro lugar, buscando te encontrar quem sabe não tão longe do meu mundo.