quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

" Este súbito não ter
este estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer...

Este sentir-se cair
Quando não existe lugar
onde se possa ir.

Esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir."

Paulo Leminski.

Jim Morrison e Rimbaud.

Para alguns, dois malucos, anônimos, masoquistas, usando da própria dor para produzir arte.
Para outros, imortais, homens de sensibilidade à flor da pele que apenas foram silenciados com a morte.
Jim, homem que encantou mesmo quando não queria, gerações e mais gerações, com poesias fortes, sensíveis, que atraem fãs até nos dias de hoje. Vocalista da banda The Doors. Mas qual sua relação com Rimbaud?
Rimbaud, grande poeta francês que revolucionou o mundo da poesia antes dos seus 20 anos. Poesia que continua sendo estudada nos dias de hoje.
Jim tem suas canções inspiradas em Rimbaud o que torna os dois unidos não só em sucesso prematuro, admiração ou imortalidade entre os fãs, mas algo mais profundo que transpira, que dói na alma, que faz chorar.




Arthur Rimbaud - Noite no Inferno.

Traguei um bom gole de veneno.

— Seja três vezes abençoada minha resolução!

— Minhas entranhas ardem. A violência do veneno contrai-me os membros, desfigura-me, arroja-me ao chão. Morro de sede, sufoco, não posso gritar. É o inferno, as penas eternas! Vede como o fogo se levanta! Queimo-me, como convém. Vai, demônio!

Eu percebera a conversão ao bem e à felicidade, a salvação. Possa eu descrever a visão, o ar do inferno não tolera os hinos! Eram milhares de criaturas encantadoras, um doce concerto espiritual, a força e a paz, as nobres ambições, e que mais?

As nobres ambições!

E é ainda a vida! — Se a danação é eterna! Um homem que se mutila deliberadamente é um danado, não é? Creio estar no inferno, então estou nele. É a execução do catecismo. Sou escravo do meu batismo. Pais, fizestes a minha desgraça, e também a vossa. Pobre inocente! – O inferno não pode investir contra os pagãos. — É ainda a vida! Mais tardes, serão mais profundas as delícias da danação. Um crime, depressa, que posso cair no vácuo, por imposição da lei humana.

Fica em silêncio, cala-te!… Aqui é a vergonha, a reprovação: Satã diz que o fogo é ignóbil, e que minha cólera é terrivelmente estúpida. – Basta!… Erros a que me induziram, magias, perfumes falsificados, músicas pueris. – E dizer que possuo a verdade, que vejo a justiça: tenho um julgamento são e firme, estou pronto para a perfeição… Orgulho!. — Meu couro cabeludo se resseca! Piedade! Senhor, tenho medo. Tenho sede, tanta sede! Ah, a infância, o luar quando o sino tocava meia-noite… O diabo está no campanário, nessa hora. Maria! Virgem Santa!… — Minha estupidez causa-me horror.

Lá embaixo não estão as almas honestas, que me desejam o bem?… Vinde… Tenho um travesseiro sobre a boca, elas não me ouvem, são fantasmas. Além do mais, ninguém pensa nunca nos outros. Não se aproximem de mim. Cheiro a carne tostada, é certo.
As alucinações são inumeráveis. É, sem dúvida, o que sempre tive: falta de fé na história, o esquecimento dos princípios. Silenciarei sobre isto: poetas e visionários ficariam enciumados. Sou mil vezes o mais rico, sejamos avaros como o oceano.
Isto, agora! O relógio da vida acabou de parar. Não esto
u mais no mundo. — A teologia é uma coisa séria, o inferno está certamente embaixo — e o céu no alto. —

Êxtase, pesadelo, sono em um ninho de chamas.

Quantas burlas na vigília campestre… Satã, Ferdinando, corre com as sementes selvagens… Jesus caminha sobre as sarças purpúreas, sem curvá-las… Jesus caminha sobre as águas irritadas. À luz da lanterna, ele nos surgiu de pé, de branco e de trigueiras tranças, no seio uma onda de esmeralda…

Vou desvendar todos os mistérios: mistérios religiosos ou naturais, morte, nascimento, futuro, passado, cosmogonia, o nada. Sou mestre em fantasmagorias.
Escutai!…
Tenho todos os talentos! — Não há ninguém aqui, e há alguém: eu não gostaria de distribuir meu tesouro. – Querem cantos negros, danças de huris? Querem que eu desapareça, mergulhe em busca do anel? Querem? Fabricarei ouro, remédios.

Confiai em mim, então, a fé alivia, guia, cura. Vinde, todos — até as criancinhas — que eu vos posso consolar e entre vós distribuir seu coração, — o coração maravilhoso!

— Pobres homens trabalhadores! Não peço orações; seria feliz apenas com a vossa confiança.

— E pensemos em mim. Isto me faz lamentar pouco o mundo. Tenho a sorte de não sofrer mais. Minha vida não foi senão doces loucuras, o que é lamentável.
Ora isso! façamos todas as caretas imagináveis.
Estamos, delicadamente, fora do mundo. Não se ouve nenhum som. Meu tato desapareceu. Ah! meu castelo, minha porcelana de Saxe, meu bosque de salgueiros. As tardes, as manhãs, as noites, os dias… Como estou cansado!

Eu deveria ter um inferno para a minha cólera, um inferno para o meu orgulho, — e o inferno da carícia; um concerto de infernos.

Morro de cansaço. É o túmulo, vou-me para os vermes, horror dos horrores! Satã, farsante, queres dissolver-me com os teus encantos! Protesto. Protesto! um golpe de forcado, uma gota de fogo.

Ah, voltar de novo à vida! Lançar os olhos sobre nossas monstruosidades. E este veneno, este beijo mil vezes maldito! Minha fraqueza, a crueldade do mundo! Meu Deus, piedade, ocultai-me, não estou em condições de proteger-me! – Estou escondido e não o estou.

É o fogo que se ergue, com o seu danado.





Riders On The Storm - The Doors.

Riders on the storm,
Riders on the storm,

Into this house we're born,
Into this world we're thrown
Like a dog without a bone,
An actor out alone,

Riders on the storm

There's a killer on the road
His brain is squirming like a toad
Take a long holiday
Let your children play
If you give this man a ride
Sweet family will die
Killer on the road

Girl you gotta love your man
Girl you gotta love your man
Take him by the hand
Make him understand
The world on you depends
Or life will never end
Gotta love your man.

Riders on the storm
Riders on the storm

Into this house we're born
Into this world we're thrown
Like a dog without a bone
An actor out alone

Riders on the storm


Viajantes na tempestade

Viajantes na tempestade
Viajantes na tempestade

Nesta casa fomos criados
Neste mundo fomos jogados
Como um cão sem um osso
Um ator atuando sozinho

Viajantes na tempestade

Há um assassino na estrada
Seu cérebro está se retorcendo como um sapo
Tire uma folga num feriado
Deixe suas crianças brincarem
Se você der carona a esse homem
Sua doce família irá morrer
Assassino na estrada

Garota voce deve amar seu homem
Garota voce deve amar seu homem
Pegue-o pela mão
Faça-o entender
O mundo de você depende
Ou a vida nunca irá acabar
Deve amar seu homem

Viajantes na tempestade
Viajantes na tempestade

Nesta casa fomos criados
Neste mundo fomos jogados
Como um cão sem um osso
Um ator atuando sozinho

Viajantes na tempestade



Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levantar-te além do rio;
Mas isto te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o.

Assim falou Zaratustra, Nietzsche.

"Na minha memória - tão congestionada -
e no meu coração - tão cheio de marcas e poços -
Você ocupa um dos lugares mais bonitos."
Caio F.

" Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você, ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era uma projeção daquilo que eu sentia, e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que, no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?"

Caio F.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010



[...] e se é verdade que o tempo não volta,
também deveria ser verdade que os amigos
não se perdem...