sábado, 17 de dezembro de 2011

Kierkegaard - Copenhague, 5 de Maio de 1813 à 18 de Novembro de 1855.

“ Quando se supõe misturada ao imediato uma certa reflexão sobre si próprio, o desespero modifica-se um pouco; o homem, algo consciente do seu eu, é-o também um pouco mais, e por isso mesmo, do que é o desespero e da natureza desesperada do seu próprio estado; que fale de estar desesperado, e já não será absurdo; mas no fundo é sempre desespero-fraqueza, um estado passivo; e a sua forma continua a ser aquela em que o desesperado não quer ser ele próprio.
O progresso, neste caso, no puro imediato, está em que o desespero já não provém sempre dum choque, dum acontecimento, mas pode ser devido a essa reflexão sobre si próprio, e não é então uma simples submissão passiva a coisas exteriores, mas, em parte, um esforço pessoal, um ato. Manifesta-se aqui, efetivamente, um certo grau de reflexão interna, e portanto um regresso ao eu; e esse começo de reflexão inicia a ação de escolha pela qual o eu se apercebe da íntima diferença com o mundo exterior, começo que também inicia a influência dessa escola sobre o eu. Mas isso não o levará muito longe. Quando o eu, com a sua bagagem de reflexão, vai assumir-se inteiramente, arrisca-se a chocar com qualquer dificuldade na sua íntima estrutura, na sua necessidade. Pois que, tal como o corpo humano, também nenhum eu é perfeito. Essa dificuldade, seja qual for, fá-lo recuar aterrorizado.”

Da Obra: O Desespero Humano.

"...Ele não pertencia à realidade e, no entanto tinha muito a ver com ela. Passava sempre acima da realidade, e mesmo quando mais lhe entregava, estava longe dela. Mas não era o bem dela que o afastava e, no fundo, também não o mal ...


Ele não fraquejava à gravidade da realidade, não era excessivamente fraco para a suportar, nao, era antes demasiado forte; mas esta força era uma doença. Logo que a realidade perdia a sua importância como estimulante, ficava indefeso, e nisso consistia o mal que o habitava. Tinha plena consciência deste fato, mesmo no momento do estímulo, e o mal estava nessa consciência...


...Parece ter sido ainda experimentado num tipo de experiência que o define perfeitamente bem; pois ele era, de uma forma extrema, intelectualmente determinado para ser um sedutor
Vulgar"

Da Obra: Diário de um Sedutor.

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